CRÔNICA DE DOMINGO

 I N G R A T I D Ã O

   Não defendo - e nunca defendi - que se pague um favor, seja qual for ele, grande ou pequeno, com a adesão sistemática do beneficiado ao seu benfeitor, principalmente  no que tange ao alinhamento eleitoral. Mas devemos respeitar e ser gratos a quem nos ajudou num momento difícil. Mesmo dando a volta por cima e alcançando posição e estabilidade financeira, o homem de verdade não pode e não deve esquecer quem lhe beneficiou no tempo das vacas magras, quando das dificuldades, nos maus momentos. Há que haver o sentimento de gratidão. E a humildade de se reconhecer como devedor. Se formos humildes na hora de receber um favor, devemos proceder da mesma forma quando estivermos em melhores condições de vida.

   Mas nem sempre acontece isso. Pelo contrário, o beneficiado costuma esquecer seu benfeitor. Às vezes, pasmem, até trai o benfeitor, e de forma miserável. Não podemos esquecer da imagem histórica do César traído e esfaqueado pelo filho Brutus, ensaguentado e perplexo fazer a pergunta que virou libelo contra os traidores: "Até tu, Brutus, filho meu?!!!". Augusto dos Anjos, grande poeta, comparou a ingratidão a uma pantera e fez o verso célebre: "A mão que afaga é a mesma que apedreja". Victor Hugo dizia que o ingrato é sempre um infeliz, disse: "Os infelizes são ingratos; isso faz parte da infelicidade deles".

   Há ene condenações à falta de humildade e à ingratidão e à traição, sobretudo ao esquecimento dos beneficiados pelos seus benfeitores. Para mim a mais contundente e verdadeira é de Shakespeare: "A experiência nos ensina que a humildade é a escada que se serve a ambição para atingir o fim desejado. Desde que chega ao cimo, ela volta as costas à escada, dirige o olhar para os céus e desdenha dos humildes degraus que serviram para sua ascensão".

   Do meu cantinho, longe dos embates da política onde as ambições pululam adoidadas, a gratidão é fruta braba e a humildade é palavrão, fico perplexo com tanta sem-vergonhice, traição, ingratidão e falta de caráter dos atores políticos.  Atores não, palhaços, trapalhões, traíras e indivíduos que jogaram na lata do lixo a honra, o caráter e o sentimento de gratidão. E que desconhecem o sentimento da humildade. São uns farsantes. E priu.

Fonte, http://blogdewilliamporto.zip.net/