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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

 Lula, nosso presidente. Um sonho vencido.

Sucesso sempre, Lula!

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

 

Uma aula!
MILLY LACOMBE:
"Mensalão e Petrolão são escândalos de corrupção fincados na cabeça dos brasileiros. São, também, diretamente associados ao PT.
Foram revelados durante administrações petistas e nós da imprensa demos a eles seus devidos tamanhos.
É inaceitável que dinheiro público seja desviado, especialmente se houver uma organização criminosa para fazê-lo.
Apenas para que o tema não passe sem ser esmiuçado, precisamos lembrar que em 1989 o jornalista Ricardo Boechat ganhou um prêmio Esso com uma reportagem sobre a corrupção na Petrobras.
Em 1993, uma CPI foi instaurada para investigar o esquema em que um cartel de empreiteiras desviava verbas do orçamento da União corrompendo políticos. Tudo isso deu apenas em um processo, contra o jornalista Paulo Francis. Ou seja, não deu em nada.
O PT, ao assumir o poder, removeu boa parte das ferramentas que impediam que as investigações se aprofundassem (eu estou listando fatos apenas) e posso explicar o que fez o PT para desbloquear o represamento das investigações.
FHC, em 1995, nomeou Geraldo Brindeiro como procurador geral da republica e renovou por três vezes o seu mandato. Dos 626 inquéritos que chegaram às mãos de Brindeiro na PGR apenas 60 denúncias foram encaminhadas. Por isso ele ficou conhecido como engavetador geral da republica.
Diante dessa indecência promovida por FHC, em 2001 membro do Ministério Publico exigiram que FHC respeitasse a lista tríplice de nomes. FHC ignorou e renomeou Brindeiro.
Lula, ao assumir, fez uso da lista tríplice e nomeou o nome mais votado pelos membros do MP sem questionar.
Entre 2003 e 2009, com Lula portanto, o número de operações realizadas pela polícia civil foi de 18 para 236. A PF passou a se concentrar em crimes contra os cofres públicos.
Em 2007 foram 183 operações e 2800 pessoas presas. Não tinha Lava Jato, não tinha manchetes diárias, não tinha eco na mídia. Por que, você deve se perguntar.
A PF foi reformada durante as administrações de Lula. Autonomia, melhores salários e operações de combate à corrupção.Outra vez: estou apenas listando fatos.
O PT atuou para que escândalos de corrupção viessem à tona. Coisa que nem Sarney, nem FHC fizeram - muito pelo contrário.
Esses dados nos indicam que o PT não foi o partido que inventou a corrupção, nem mesmo o partido que a organizou no Brasil. Não se trata de tirar sua responsabilidade, mas de colocá-la em seu devido lugar dando a ela seu real tamanho. Jornalismo é contexto.
Mas mesmo quem entende que nada disso foi montado nas administrações petistas confere ao PT a exigência do desmantelamento - que não foi feito.
Por que quem veio antes de Lula nunca foi responsabilizado? Por que os atuais escândalos de corrupção não ganham nomes populares, manchetes diárias?
Os nomes escolhidos para nomear os esquemas de corrupção desvendados durante as administrações petistas são ótimos.
Eles comunicam a grandeza dos desvios. A imprensa pegou esses nomes e cravou no noticiário sem cessar por anos.
Uma ida ao Manchetômetro da UERJ, e tudo pode ser comprovado.O Manchetômetro, aliás, é um site de acompanhamento da cobertura da grande mídia sobre temas de economia e política produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP) que não tem filiação com partidos ou grupos econômicos.
Mas voltemos ao fio do pensamento.
Diante de todos os prejuízos do Mensalão, é de se imaginar que, havendo qualquer coisa parecida, o peso que nós da imprensa daríamos a isso seria o mesmo.
Vejamos o orçamento secreto, que, para Simone Tebet, pode ser o maior escândalo de corrupção do Planeta (vídeo abaixo).
Os números do orçamento secreto deixam, desde já, o Mensalão como brincadeira de criança.
Falemos do nome: orçamento secreto.
O que ele comunica? Nada.
Orçamento é uma palavra aborrecida e secreto não tem muita rejeição.
Mesmo com esse nome tedioso, a pergunta é: o escândalo está nas manchetes? Não. Deveria? Sim. Com enorme destaque. Todos os dias.
Na mesma medida do que foi feito com o Mensalão. Ou talvez até mais porque estamos diante de uma eleição que pode acabar com o que resta de democracia.
E essa aspecto também deveria ser ressaltado diariamente pela imprensa: Bolsonaro fala em golpe, ameaça o golpe, acha que adversário político deve ser exterminado e é risco real e imediato às nossas vidas.
Mas falemos da corrupção.
Há pelo menos 26 casos de corrupção associados ao governo Bolsonaro: funcionários fantasmas no gabinete do presidente e dos filhos, apoio aberto a milícias no Rio, os repasses para a conta de Michelle, o advogado de Bolsonaro escondendo Queiroz em sua casa, obras feitas pelo ministério da saúde sem licitação, esquema de contrabando de madeira ilegal no ministério do meio ambiente, vacina sendo negociada pelo ministério da saúde pelo triplo do preço, pedido de propina de um dólar por cada dose comprada da vacina AstraZeneca. (O escândalo no MEC com Bolsonaro autorizando pastores e suas barras de ouro. Superfaturamento na compra de veículos e a lista continua.)
Seguir usando nomenclatura tediosa para comunicar cada um deles não faz a informação chegar à população com a força que deveria chegar.
Para o orçamento secreto, por exemplo, nomes como "O Mensalão de Bolsonaro" seriam mais honestos.
É o que é: o Mensalão de Bolsonaro.
Por que não estamos comunicando dessa forma?
E as rachadinhas? O que são as rachadinhas?
São o crime organizado institucionalizado. Há três décadas.
A escolha do nome, no diminutivo e usando um verbo que comunica solidariedade (o que é rachar?) não ajuda na divulgação e compreensão do tamanho da roubalheira.
Esquema de corrupção, crime organizado, extorsão? Um pouco de criatividade nos faria encontrar um nome que pudesse comunicar todo o horror do que é esse esquema institucionalizado por Bolsonaro e seus filhos (leiam o livro de Juliana Del Piva, "O negócio do Jair").
Ninguém mais pode questionar o fato de que Lula e sua frente ampla são os únicos atores capazes de nos livrar da ameaça de um segundo mandato de Jair Bolsonaro - um mandato que como ensina o livro "Como as democracias morrem" sacramentaria o golpe, o fim da Amazônia, das instituições, dos direitos humanos etc.
Por que o noticiário ainda se refere a essa frente como "Lula" ou "O PT" apenas? Por que não chamar de Frente ampla democrática?
Comunicar é repetir. Temos a obrigação de repetir, de nomear as coisas corretamente, de não nos omitir.
Esse é o papel da imprensa em tempos de paz, mas é ainda mais em tempos de guerra.
Existe apenas uma força mobilizando o campo fascista nessas eleições, e ela se chama anti-petismo. O anti-petismo é uma paranoia delirante que foi incansavelmente promovida pela imprensa.
O já igualmente histórico e infame editorial do Estadão do "Uma escolha muito difícil" fez coisa demais pela naturalização da extrema-direita nesse país.
A cada absurdo não confrontado dito diante das câmeras por Bolsonaro estamos naturalizando a extrema-direita.
A cada mentira não verificada dita em debate, idem. Não são mentiras sobre o número de escolas abertas em seu mandato. São mentiras que visam instalar paranoia, medo, bloqueio da imaginação e depressão. Não combatê-las é, proposital ou acidentalmente, naturalizar o fascismo que pulsa em Bolsonaro e em seus métodos.
Não bastaram 13 anos de governos democráticos para que o PT fosse aceito. A esquerda segue sendo demonizada, enquanto a extrema-direita é naturalizada pela mídia.
Nós da imprensa precisamos assumir nosso papel na legitimidade da extrema-direita no Brasil.
Aceitar sem questionar que nomes como Paulo Guedes (colunista de O Globo por dez anos), Kim Kataguiri, Helio Beltrão, Meval Pereira, Augusto Nunes, Alexandre Garcia etc sejam vozes normalizadas e centrais nos maiores veículos e que não encontram contra-argumentação nos trouxe até aqui.
Quando Guilherme Boulos foi contratado como colunista da Folha, os mesmos que sempre aceitaram os nomes acima - que hoje vão sendo desmascarados como sendo de extrema direita - berraram em revolta e indignação.
Boulos não!
Por que Boulos não? Kataguiri pode, Beltrão pode, Nunes mas Boulos não? Merval pode mas Boulos não?
Essa semana, o governador Romeu Zema foi entrevistado na Globonews e disse que Bolsonaro não representa ameaça à democracia. Não foi questionado. Sua palavra ficou como a palavra final.
Silenciar diante de uma declaração mentirosa como essa é compactuar.
Não estamos aqui falando de achismos ou de desejos Estamos falando de fatos.
Em dois minutos podemos listar vinte motivos para contra-argumentar Zema. Não foi feito.
Todo mundo pode não gostar de Lula, do PT, do petismo, da esquerda.
Democracia comporta conflitos e disputas.
Direita e esquerda são campos válidos. Mas seria preciso começar a dizer em alto e bom som que a esquerda que o PT representa nunca pregou o extermínio do campo adversário.
E a extrema-direita que Bolsonaro representa prega isso todos os dias há quatro anos.
Não estamos falando de simetrias. É hora de a imprensa assumir um lado nessa história.
Agora mais do que nunca precisamos nos agarrar aos fatos e não a crendices e preconceitos porque a ameaça de colocarmos os dois pés num regime fascista está no horizonte.
Derrotar Jair Bolsonaro e seus métodos milicianos de gestão e de institucionalização de assédios é a missão de qualquer pessoa que acredite em democracia. E é a da imprensa.
Não é preciso muita coisa. Basta as palavras certas, manchetar os escândalos de corrupção, confrontar as mentiras ao vivo e repetir, repetir, repetir.
No dia 2 de janeiro de 2023 poderemos voltar a fazer oposição justa, coerente e honesta ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva com a certeza de que nossas vidas não serão submetidas a nenhum tipo de assédio ou de extermínio institucional.
Preciso ressaltar que se por um lado a imprensa tem papel decisivo na naturalização da extrema-direita, ela também tem papel decisivo em abrir as frestas para que os escândalos de corrupção sejam trazidos à luz do dia.
Foi assim no Mensalão, no Petrolão, no esquema de distribuição de fake-news de Bolsonaro em 2018 por Patricia Campos Melo e agora, com Juliana del Piva, com sua investigação de quatro anos sobre quem é Jair Bolsonaro e sobre seus métodos de atuação.
Reforço a recomendação para que leiam o livro " O Negócio do Jair" enquanto é tempo."

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

 Armaram o jogo e entre tantos farsantes, só Lula tem história política pra saber jogar no campo inimigo.

Pelo 2º pleito seguido, a Globo é a maior emissora de fake news em véspera de campanha. Abrindo espaço pra performance política de péssimo gosto, mistura candidatos com figurantes e acha que o povo é besta.
O povo viu 6 papagaios do gabinete do ódio, ao vivo, na TV aberta e vários canais da internet.
Bolsonaro mente, como é da sua natureza. A novidade é ver a trajetória de Ciro pro mesmo caminho. O antipetismo é um vírus zumbi. É um claro atentado à saúde pública, esse surto coletivo de propagação de ódio.
Ciro perdeu o que o PDT não queria perder - a metade da credibilidade que ainda tinha.
Numa eleição onde Lula já ganhou desde 2018, surge um "candidato Padre" que não é padre. Sua colega do centrão o entregou na dança de quadrilha - padre de festa junina.
Contratado para melhorar a imagem do demônio, criaram dois.
Má-fé.
Entre dólares e pistolas, na dança de quadrilha, só entra liberal que aceita baixaria.
Neoliberal não faz proposta. Faz ameaça.
O naziliberalismo compra espaço de discurso e, hoje, com investimento mais barato que um jatinho, todo herdeiro que não tem serventia pros negócios da família alça voo no Novo. Quando se elegem, mandam dinheiro do Estado pra família.
"Estado Mínimo!" - gritam, enquanto saqueiam o Estado e enriquecem os parentes.
A burguesia é caso de polícia.
Jogaram ossos pro povo por 6 anos, pelanca, farelo, veneno e ainda pedem "Menos Estado" pra jogarem o quê mais em nós?
A burguesia é caso de psicopatia.
Lula falou por nós que já conhecemos a armação e o teatro. Controlando a indignação de quem assistia o concurso dos caras-de-pau, Lula chamou o "padre" de farsante e "ufa!", foi possível tolerar todo o resto.
Os ataques orquestrados para criarem o clima de polarização, não pegou Lula nenhuma das vezes. Todos os candidatos não apenas atacaram Lula, como também anistiaram Bolsonaro de tudo. O responsável por quase 700 mil mortos é legitimado como candidato a matar mais 1 milhão, pergunta a pergunta.
Soraia, ex-bolsomínia, acusa o genocida por não ter cumprido todas as suas promessas de 2018. Ou seja, ter feito governo ainda pior. Unidos na ruindade, voltarão a ser amigos outro dia.
Simone, a golpista, passou toda a campanha escondendo Temer debaixo da saia. A Senadora latifundiária que joga ossos pro povo, é coração de mãe mais falso que o padre. Sua proposta para tirar jovem da Universidade e jogá-lo numa moto do iFood, é a coisa mais medonha do leque de golpes liberais propostos esta noite.
O Mercado fala pela boca de um padre, de um genocida, de uma latifundiária golpista, de uma ex-bolsomínia, de um ressentido e de um rico improdutivo. Seis vozes pro Mercado e um espaço de voz pro Lula.
Lula lidera as pesquisas e coloca a disputa eleitoral de 2022 nas mãos do povo. Do povo que se lembra dos 13 anos de PT, época que pobre tinha dinheiro na poupança, tanque cheio, dois carros na garagem, férias na praia, geladeira cheia, mesa farta, vida planejada com inflação controlada, dignidade com reajuste salarial e proteção trabalhista, sem fila no INSS, a economia gerando empregos e garantindo direitos, construindo país sem criança vendendo bala no sinal, sem família debaixo da ponte, com criança vacinada e alimentada, escola, creche, saúde, água, energia chegando longe a quem precisa, pobre chegando na universidade, pretos libertos do projeto de opressão e protegidos da violência do racismo, mulheres construindo sua cidadania, estudantes sonhando alto, dignidade e respeito com os idosos...
Ah, não foi perfeito?
Não é perfeito porque a burguesia não dá sossego pro povo.
Não quis pobre no aeroporto e nem na USP.
Tratando o trabalhador com chicote e ossos, empurraram o mandato do genocida até o fim. Em breve, voltarão como "fiscais da coisa pública", dizendo o quanto o PT não é perfeito.
A gente acompanhou a agenda de debates para fiscalizar a ousadia da burguesia. Que a Democracia crie mais espaços para candidatos, dispensando no futuro, tantas personagens grotescas para a política e doentias para a sociedade.
No próximo domingo a gente pode pôr fim à toda essa presepada que a elite armou pro povo brasileiro. Eleger #LulaNoPrimeiroTurno e decretar feriado na segunda - Dia da Democracia.
Já no próximo ano, a gente pode esperar um Estado que coloca o cidadão brasileiro acima de tudo. Que dessa vez, a gente pense no todo para um todo.
O Brasil está tendo uma chance. Chance que, há alguns anos, toda a conjuntura previa para daqui 20 anos ou 100.
Com muito enfrentamento, muita luta, muita resistência, muita coragem, o Brasil mereceu essa oportunidade.
Vamos agarrá-la, no domingo mesmo.

Malu Aires
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terça-feira, 20 de setembro de 2022

 Alguém já viu a fúria de alguma bolsominia? Ontem, eu vi. kkkkkk

Sem argumento nenhum, a criatura passou a atacar meu lado pessoal pensando que aquilo iria me ferir. Já sou vacinada contra gente raivosa, faz tempo. Por isso, viva a democracia! Abaixo quem se acha a Casa Grande. Pode sair da frente, coisa ruim, que eu quero passar com todo o meu Amor. Sem medo de ser feliz, é 13 em você e neles. Me erra.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

 O Brasil levará décadas para compreender o que aconteceu naquele nebuloso ano de 2018, quando seus eleitores escolheram, para presidir o país, Jair Bolsonaro. Capitão do Exército expulso da corporação por organização de ato terrorista; deputado de sete mandatos conhecido não pelos dois projetos de lei que conseguiu aprovar em 28 anos, mas pelas maquinações do submundo que incluem denúncias de “rachadinha”, contratação de parentes e envolvimento com milícias; ganhador do troféu de campeão nacional da escatologia, da falta de educação e das ofensas de todos os matizes de preconceito que se pode listar.

Embora seu discurso seja de negação da “velha política”, Bolsonaro, na verdade, representa não sua negação, mas o que há de pior nela. Ele é a materialização do lado mais nefasto, mais autoritário e mais inescrupuloso do sistema político brasileiro. Mas – e esse é o ponto que quero discutir hoje – ele está longe de ser algo surgido do nada ou brotado do chão pisoteado pela negação da política, alimentada nos anos que antecederam as eleições.
Pelo contrário, como pesquisador das relações entre cultura e comportamento político, estou cada vez mais convencido de que Bolsonaro é uma expressão bastante fiel do brasileiro médio, um retrato do modo de pensar o mundo, a sociedade e a política que caracteriza o típico cidadão do nosso país.
Quando me refiro ao “brasileiro médio”, obviamente não estou tratando da imagem romantizada pela mídia e pelo imaginário popular, do brasileiro receptivo, criativo, solidário, divertido e “malandro”. Refiro-me à sua versão mais obscura e, infelizmente, mais realista segundo o que minhas pesquisas e minha experiência têm demonstrado.
No “mundo real” o brasileiro é preconceituoso, violento, analfabeto (nas letras, na política, na ciência... em quase tudo). É racista, machista, autoritário, interesseiro, moralista, cínico, fofoqueiro, desonesto.
Os avanços civilizatórios que o mundo viveu, especialmente a partir da segunda metade do século XX, inevitavelmente chegaram ao país. Se materializaram em legislações, em políticas públicas (de inclusão, de combate ao racismo e ao machismo, de criminalização do preconceito), em diretrizes educacionais para escolas e universidades. Mas, quando se trata de valores arraigados, é preciso muito mais para mudar padrões culturais de comportamento.
O machismo foi tornado crime, o que lhe reduz as manifestações públicas e abertas. Mas ele sobrevive no imaginário da população, no cotidiano da vida privada, nas relações afetivas e nos ambientes de trabalho, nas redes sociais, nos grupos de whatsapp, nas piadas diárias, nos comentários entre os amigos “de confiança”, nos pequenos grupos onde há certa garantia de que ninguém irá denunciá-lo.
O mesmo ocorre com o racismo, com o preconceito em relação aos pobres, aos nordestinos, aos homossexuais. Proibido de se manifestar, ele sobrevive internalizado, reprimido não por convicção decorrente de mudança cultural, mas por medo do flagrante que pode levar a punição. É por isso que o politicamente correto, por aqui, nunca foi expressão de conscientização, mas algo mal visto por “tolher a naturalidade do cotidiano”.
Se houve avanços – e eles são, sim, reais – nas relações de gênero, na inclusão de negros e homossexuais, foi menos por superação cultural do preconceito do que pela pressão exercida pelos instrumentos jurídicos e policiais.
Mas, como sempre ocorre quando um sentimento humano é reprimido, ele é armazenado de algum modo. Ele se acumula, infla e, um dia, encontrará um modo de extravasar. (...)
Foi algo parecido que aconteceu com o “brasileiro médio”, com todos os seus preconceitos reprimidos e, a duras penas, escondidos, que viu em um candidato a Presidência da República essa possibilidade de extravasamento. Eis que ele tinha a possibilidade de escolher, como seu representante e líder máximo do país, alguém que podia ser e dizer tudo o que ele também pensa, mas que não pode expressar por ser um “cidadão comum”.
Agora esse “cidadão comum” tem voz. Ele de fato se sente representado pelo Presidente que ofende as mulheres, os homossexuais, os índios, os nordestinos. Ele tem a sensação de estar pessoalmente no poder quando vê o líder máximo da nação usar palavreado vulgar, frases mal formuladas, palavrões e ofensas para atacar quem pensa diferente. Ele se sente importante quando seu “mito” enaltece a ignorância, a falta de conhecimento, o senso comum e a violência verbal para difamar os cientistas, os professores, os artistas, os intelectuais, pois eles representam uma forma de ver o mundo que sua própria ignorância não permite compreender.
Esse cidadão se vê emponderado quando as lideranças políticas que ele elegeu negam os problemas ambientais, pois eles são anunciados por cientistas que ele próprio vê como inúteis e contrários às suas crenças religiosas. Sente um prazer profundo quando seu governante maior faz acusações moralistas contra desafetos, e quando prega a morte de “bandidos” e a destruição de todos os opositores.
Ao assistir o show de horrores diário produzido pelo “mito”, esse cidadão não é tocado pela aversão, pela vergonha alheia ou pela rejeição do que vê. Ao contrário, ele sente aflorar em si mesmo o Jair que vive dentro de cada um, que fala exatamente aquilo que ele próprio gostaria de dizer, que extravasa sua versão reprimida e escondida no submundo do seu eu mais profundo e mais verdadeiro.
O “brasileiro médio” não entende patavinas do sistema democrático e de como ele funciona, da independência e autonomia entre os poderes, da necessidade de isonomia do judiciário, da importância dos partidos políticos e do debate de ideias e projetos que é responsabilidade do Congresso Nacional. É essa ignorância política que lhe faz ter orgasmos quando o Presidente incentiva ataques ao Parlamento e ao STF, instâncias vistas pelo “cidadão comum” como lentas, burocráticas, corrompidas e desnecessárias. Destruí-las, portanto, em sua visão, não é ameaçar todo o sistema democrático, mas condição necessária para fazê-lo funcionar.
Esse brasileiro não vai pra rua para defender um governante lunático e medíocre; ele vai gritar para que sua própria mediocridade seja reconhecida e valorizada, e para sentir-se acolhido por outros lunáticos e medíocres que formam um exército de fantoches cuja força dá sustentação ao governo que o representa.
O “brasileiro médio” gosta de hierarquia, ama a autoridade e a família patriarcal, condena a homossexualidade, vê mulheres, negros e índios como inferiores e menos capazes, tem nojo de pobre, embora seja incapaz de perceber que é tão pobre quanto os que condena. Vê a pobreza e o desemprego dos outros como falta de fibra moral, mas percebe a própria miséria e falta de dinheiro como culpa dos outros e falta de oportunidade. Exige do governo benefícios de toda ordem que a lei lhe assegura, mas acha absurdo quando outros, principalmente mais pobres, têm o mesmo benefício.
Poucas vezes na nossa história o povo brasileiro esteve tão bem representado por seus governantes. Por isso não basta perguntar como é possível que um Presidente da República consiga ser tão indigno do cargo e ainda assim manter o apoio incondicional de um terço da população. A questão a ser respondida é: como milhões de brasileiros mantêm vivos padrões tão altos de mediocridade, intolerância, preconceito e falta de senso crítico ao ponto de sentirem-se representados por tal governo?
Ivann Lago
Professor e Doutor em Sociologia Política