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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A motosserra de Eduardo Campos

Veja em números o que o governo Eduardo Campos já destruiu de vegetação nativa em Pernambuco. Para visualizar clique na barra do quadro, no último ícone à direita, e ESC para retornar.

Publicado no Jornal do Commercio, em 20 de setembro de 2013. Por Cleide Alves, repórter de Cidades.
 
A Secretaria Estadual das Cidades vai destruir uma área de 6,02 hectares de vegetação nas margens dos Rios Capibaribe e Beberibe, quase toda composta de mangue, para construir as estações de embarque e desembarque de passageiros do transporte fluvial. É como se o governo eliminasse uma área verde do tamanho de oito campos de futebol da Arena Pernambuco, nas cidades do Recife e de Olinda.
 
Para derrubar as plantas, localizadas numa Área de Preservação Permanente (APP), o governador Eduardo Campos enviou projeto de lei à Assembleia Legislativa, em caráter de urgência. O pedido foi aprovado anteontem. "Seis hectares de mangue é muito significativo e se soma aos 675,3221 ha eliminados no Estado, de 1997 a 2010", observa Clemente Coelho Júnior, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE).
 
Desse total, 596,4261 ha (88,32%) foram autorizados de 2007 a 2010, na gestão de Eduardo Campos, observa Clemente Coelho Júnior, que é biólogo e oceanógrafo. "Isso caracteriza uma política de supressão de APP, apenas com uma assinatura do governador", declara o professor.
 
Segundo ele, a redução da vegetação das margens do Capibaribe e seus afluentes tem implicação no conforto térmico da cidade. "Mangue também é área verde pública, mas seu potencial de arborização é esquecido", acrescenta.
 
O manguezal, observa o professor, tem ainda a função de evitar a erosão das margens do rio. "O governo vai tirar um ecossistema importante na prevenção natural da erosão e está usando uma obra de engenharia para fazer o desassoreamento (tirar areia do leito do rio e abrir um canal de navegação). Isso é uma política às avessas", diz Clemente Coelho, referindo-se à dragagem do Capibaribe.
 
A supressão do mangue interfere na produção de alimentos, no controle do microclima, na polinização das plantas e na conexão entre unidades de conservação (UC), continua o biólogo. "A conectividade entre a UC Dois Irmãos (Zona Norte do Recife) e o Parque 13 de Maio (Centro) é feita pela vegetação das margens do rio", exemplifica.
 
"Setenta a 80% do pescado brasileiro é composto de organismos que usam o ecossistema manguezal e o estuário do rio pelo menos em uma fase da vida", diz o pesquisador.
 
Na opinião de Ralf Schwamborn, professor do Departamento de Zoologia e do Programa de Pós-Graduação em Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o impacto da retirada de 6 ha de área verde da margem do rio é considerável. "O manguezal funciona com um filtro, protegendo áreas marinhas adjacentes do esgoto doméstico lançado no rio", informa o professor.
 
Ele também chama a atenção para outro aspecto do projeto de navegabilidade do governo. A dragagem do Capibaribe, diz Ralf Schwamborn, está levantando sedimentos que podem comprometer o estuário do rio e áreas marinhas próximas. Trazer materiais poluentes (mercúrio, zinco, chumbo) da lama para a superfície diminui o oxigênio na água, provocando a morte de peixes e crustáceos, alerta.
 
"Uma das atividades mais impactantes no rio é a dragagem", destaca o professor. O problema torna-se mais grave, de acordo com ele, porque o governo terá de repetir a operação, com regularidade, para evitar novo assoreamento. "Dependendo da dinâmica do lugar, são necessárias até duas dragagens por ano. O custo é enorme, financeiro e ambiental", ressalta.
 
O papel do governo, comenta o professor, "seria melhorar a qualidade ambiental do rio e reflorestar as margens do Capibaribe, não piorar mais ainda a situação."
 
Não há, na Prefeitura do Recife, estudos que quantifiquem a área de mangue da cidade. O levantamento está sendo realizado pela Secretaria de Meio Ambiente.
 

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