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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

"Desabafo de Facebook (pq sei que não vai mudar a cabeça de ninguém), mas as vezes só de escrever já dá um certo alívio.
Sou médico e trabalho em um grande hospital público de BH. Desde a faculdade aprendi que a classe médica era mesmo conservadora e, quando veio o Golpe, foi muito difícil conviver entre meus pares de profissão. As críticas à Dilma eram, na maior parte das vezes, depreciativas: “uma mulher ignorante”, “burra pra c*”, “jumenta” e por aí vai. Os mesmos médicos que chamavam a Dona Maria, paciente internada ou do ambulatório, de “jacaré” (um termo pra se referir à pessoa ignorante, que desconhece aquilo nós levamos 6 anos e uma vida de estudos pra sabermos). Os mesmos que falavam que “bandido que chega baleado tinha mesmo era que deixar morrer”. Os mesmos que urravam contra o Mais Médicos, mesmo sabendo que nunca, jamais, em hipótese alguma, trabalhariam nos “buracos” onde se metiam os cubanos. Aliás, como sabiam tecer os piores adjetivos aos colegas de Cuba. “Cubano” virou um xingamento, falado com aquela pronúncia pausada, como que para prolongar a ofensa, lentamente, aproveitando cada sílaba da palavra. Sinônimo de “inferior”, mas estava tudo certo que fosse assim. Afinal, éramos superiores, Brasileiros.
Agora, os mesmos defendem seu apoio ao candidato fascista. Não me surpreendo, o passado recente me calejou. Nos grupos de WhatsApp, nas enfermarias, nos quartos de plantão, o voto majoritário é pra ele. Aliás, se alguém conseguiu ler esse texto até agora, fica a dica: nunca queira saber o que se fala em um quarto de plantão médico. Parece que ali o desrespeito é liberado, como se dentro daquelas quatro paredes o Juramento de Hipócrates não passasse de um texto inútil que pronunciamos ao formarmos. Um protocolo.
Parece paradoxal pensar que uma pessoa que se formou para defender a vida, queira como líder a antítese de tudo que se pode considerar o direito à vida e à liberdade. Um representante declarado da tortura, do racismo, da misoginia, da segregação. Um homem que se colocou publicamente como um estuprador e que enalteceu, no dia mais triste da minha curta vida de eleitor, um dos mais cruéis e sádicos nomes da ditadura militar brasileira. O terror dos terrores, capaz de levar crianças para assistirem a mãe sendo torturada no porão. Chega a doer essa imagem, não?
Como pensar que profissionais que lidam diariamente com as piores mazelas de um povo pobre, preto e fragilizado, parecem não se importar com o peso negativo que esse apoio traz a essa parcela da sociedade? Aliás, não somente a essa parcela, porque sabemos que afetará todos nós: pequenos, médios ou altos.
Mas quando me deparo com o médico eleitor do candidato fascista, quando escuto os seus comentários, sempre cheios da mesma soberba e obscenidade, reproduzindo fielmente o ódio que prega o seu líder, a dúvida desaparece facilmente. A verdade é que essa pessoa nunca entendeu o seu real papel na sociedade. Talvez por influência de um meio já muito corrompido pelo falso status que traz a profissão . Talvez por ignorância mesmo. O que os olhos não vêem é mais fácil de negar.
Nesse próximo domingo, vou novamente exercer o meu direito e dever de cidadão. E não há dúvida: ele jamais."

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